Escrito em ingles por: Frances Baker-Tucker
tradutora: Olivia Sabini-Leite
No 24 de fevereiro, o New York Times publicou um artigo por Michael Powell sob o título, “Inside a Battle Over Race, Class and Power at Smith College”, o que em português se traduz em “Dentro de uma disputa sobre raça, classe e poder no Smith College.” O artigo procurou rastrear uma história de tensão no Smith College, mencionando, entre outros, um incidente em julho de 2018 quando um estudante foi vítima de racismo, o cancelamento de um curso de Estudos de religião, e mais recentemente, a disputa da faculdade com a Jodi Shaw, quem recentemente se demitiu devido as alegações que o Smith é um ambiente de trabalho racialmente hostil. Estudantes e ex-alunos reagiram rapidamente às alegações do artigo em conversações no campus e em várias plataformas online.
Muitos membros da comunidade expressaram raiva ao New York Times por ter dado uma plataforma a este artigo. Ex-aluna Sara Meirs ’20 disse: “Pessoalmente, acho que o artigo foi um jornalismo mais rancoroso, mesquinho e surdo que já li e não posso acreditar que foi publicado pelo NYT. O fato de que eles nomearam o estudante [envolvida no incidente de julho de 2018] na primeira linha e depois ridicularizar e desalinhar sua experiência faz com que o artigo pareça um ataque sobre um estudante universitário. Eles sabiam o exato tipo de pessoa que morderia a isca também”.
Alunos descreveram o artigo como “descuidado”, “preconceituoso” e “mal pesquisado”. Embora muitos comentadores concordam que as questões levantadas por Powell sobre as estruturas raciais e de classe no Smith precisam ser abordadas, a maioria discordou inteiramente com o seu método e análise.
Vários comentários criticaram a falta de análise interseccional do artigo. A bolsista de Ada Comstock do primeiro ano, Adriana Piantedosi, ficou desapontada ao ver o artigo de Powell colocando raça e classe uma contra a outra, em vez de se concentrar nas interseções dessas questões que afetam todos os membros da comunidade Smith. Ela ficou encorajada ao ver muitos Smithies desconsiderar a mensagem de Jodi Shaw junto com o artigo do Times e reconhecer que ele “emprega as mesmas táticas que temos visto durante séculos para tentar provocar a briga interna e destruir qualquer senso de solidariedade que deveríamos cultivar através das diferenças e realidades compartilhadas re: raça e classe”.
Esse desconforto com a recusa do artigo se escapar de um binário rígido que separa raça e classe foi compartilhado por muitos alunos. O aluno anônimo A disse: “Acho que não se pode posicionar uma instituição de elite dessa forma, não se pode dizer que o racismo institucional não existe só porque o classismo existe aqui. E ele definitivamente ignora muitas identidades interseccionais”.
O estudante anônimo B criticou Powell por usar a questão de classe “superficialmente” para justificar seu ponto de vista sobre as questões raciais no Smith. “Eles realmente não entraram na questão de classe no Smith e como isso afeta os alunos que não são da classe alta, ou como isso afeta os alunos e trabalhadores de cor no Smith. Se eles realmente quisessem falar sobre classe e trabalhadores, eles poderiam ter falado muito sobre COVID e sindicatos … simplesmente faltou muitas nuances”, disseram eles.
As complicações e nuances que surgem da consideração de identidades que se cruzam como classe e raça são ainda mais complicadas quando contrapostas com o contexto de uma faculdade historicamente destinada a mulheres. “Sinto como se houvesse algum sexismo internalizado nisso, como se esse tipo de artigo não fosse escrito sobre Amherst, Hampshire ou Oberlin, por exemplo”, disse o estudante anônimo C.
Muitos estudantes estavam especialmente preocupados pela segurança do estudante envolvido no incidente de discriminação racial em julho de 2018, condenando o Times por publicar seu nome e história. “Eu estou totalmente a favor por responsabilizar Smith por não tratar bem seus trabalhadores, mas colocar um bando de conservadores brancos furiosos sobre um jovem de cor parece uma maneira inútil e nojenta de fazer isso. É apenas um mal olho por olho”, disse Meirs.
Um tema consistente conectando todas as críticas dos Smithies ao artigo de Powell e como foi surreal ler sobre sua comunidade da perspectiva de um estranho. O artigo tentou sintetizar e falar sobre as experiências diárias de tantos membros da comunidade Smith, e muitos sentiram que isso falhou em fazer isso com precisão.
Piantedosi descreveu sua reação ao ver Smith apresentado no Times como “estando de repente sob um microscópio e aberta a representações falsas”.
“Acho que a palavra principal para descrever como me senti depois de ler o artigo foi ‘invadida’. Pareceu informação mal representada, reportagem medíocre, e foi como se eles dessem uma olhada ao redor e decidiram onde nos posicionamos e quem somos”, disse o estudante anônimo C.
Os alunos também discordaram da representação do artigo das reações e respostas dos alunos da Smith às questões de desigualdade dentro da faculdade. Muitos enfatizaram que os Smithies são conhecidos por lutar apaixonadamente para proteger sua comunidade, mesmo que isso signifique criticar a própria instituição.
“Acho que vale a pena notar que basicamente todos os alunos do Smith que vi defendendo Smith neste artigo costumam criticar muito a faculdade. Só a defendemos quando as críticas são feias e de má fé ”, disse Meirs.
“O artigo tende a pintar os alunos como propensos a reações emocionais e explosões e dispostos a lutar lutas que não valiam a pena lutar, quando na realidade nós simplesmente nos importávamos em apoiar nossos colegas e garantir que eles se sentissem bem-vindos aqui”, disse estudante anônimo C.
O Sophian entrou em contato com vários administradores do Smith para comentário; cada vez éramos referidos de volta para os dois e-mails recentes do presidente McCartney para a comunidade inteira, o primeiro enviado no 22 de fevereiro sobre a demissão de Jodi Shaw e o segundo enviado no 3 de março respondendo especificamente à cobertura da mídia sobre Smith, incluindo o artigo de Powell.